quarta-feira, 1 de junho de 2016

Amar a si mesmo


Amar é desejar felicidade. Desejar a própria felicidade é amar a si mesmo. Não conseguimos desejar felicidade para alguém sem antes desejar essa mesma felicidade para nós. A felicidade que desejamos para o outro é um reflexo do que desejamos para nós. Se desejamos equilíbrio e harmonia, vamos desejar que o outro encontre esse mesmo bem-estar. Se felicidade para nós é ter prazeres e poder, vamos amar o outro desejando o mesmo para ele. Em outras palavras, é ter clareza sobre o que nos faz bem e o que nos faz mal e determinação de abandonar o que nos faz mal e cultivar o que nos faz bem. Isso é amar a si mesmo. Sem a clareza  do que é felicidade, teremos dificuldade de entender o amor. Acredito que todo ser humano, por natureza, tem amor-próprio, pois ninguém deseja sofrer. A dificuldade está em saber como ser feliz.
O amor-próprio então é algo instintivo, pois o desejo de todo ser humano é ficar livre de qualquer sofrimento. Nesse sentido, amor-próprio nada tem a ver com egoísmo, vaidade, orgulho ou falta de humildade. Mas, em nossa cultura, a ideia de amar a si mesmo está fortemente associada a algo egoísta, feio e impróprio. Por mais que dissermos que amar a nós mesmos é a base para desenvolvermos amor pelos outros, na prática ainda permanece a sensação de que estaremos privilegiando a nós mesmos em detrimento dos outros. A mensagem subliminar de que, para amar os outros, temos que nos colocar em segundo plano está fortemente arraigada. Isso causa uma constante sensação de inadequação cada vez que temos de reconhecer nossas necessidades físicas e psíquicas. Mas, por outro lado, só poderemos nos amar se cuidarmos de nós mesmos
Cuidamos de nós mesmos quando assumimos o real compromisso de cultivar o que nos faz feliz e abandonar o que gera sofrimento. Manter esse compromisso é agir de forma coerente com o nosso desejo mais profundo: ser feliz. Uma mente saudável também abandona o que faz mal aos outros e cultiva o que lhes faz bem. O problema é que, enquanto estivermos presos aos prazeres mundanos e à autoimagem,  a forma de amor que vamos ter pelos outros estará totalmente vinculada a isso. Então, dificilmente vamos ter compaixão por uma pessoa que leva uma vida aparentemente boa mas tem uma atitude com a qual não concordamos...
 
Lama Michel Rinpoche
 
In: CESAR, Bel. Grande amor: um objetivo de vida: diálogos entre Lama Michel Rinpoche e Bel Cesar. São Paulo: Gaia, 2015. p. 178-179.
 
 
 
 
 

Bel Cesar e Lama Michel Rinpoche. Grande amor. 2015.

 
 
 


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